Tempo em Algueirão Mem Martins

domingo, 27 de agosto de 2017

Larmanjat - Requiem


Sem causar grande espanto na opinião pública, e apenas 2 anos após a sua inauguração, o Diário Ilustrado de 08/04/1875 publicava: «a partir de hoje o Larmanjat suspende provisoriamente as carreiras de passageiros, mantendo-se contudo as de mercadorias» 



Mas o mais curioso é que no mesmo número desse jornal, como aliás em alguns outros, a ‘Lisbon Steam Tranway Company’ publicou um anúncio onde se lia: «a contar do dia 8 do corrente em diante será interrompido o serviço de passageiros do Larmanjat». Poucos dias depois, a 16 de Abril podia ler-se no Jornal do Comércio «MORREU O LARMANJAT – a empresa da linha férrea do systema denominado Larmanjat foi entre nós uma tentativa malograda. Mais de mil contos de reis estão hoje completamente aniquilados nos trabalhos e no material dessa linha, irrevogavelmente condenados pelas incontestáveis demonstrações da experiência. Lamentamos a perda de um capital considerável; e pesa-nos que se frustrassem os esforços empregados em benefício da viação entre Lisboa e Sintra»

Como fecho da “estória” transcreve-se uma poesia, aliás de fraco valor poético, da autoria de Luis de Araújo publicada no Diário de Noticias:

Necrológio do Larmanjat
pobre, pobre Larmanjat
não descarrilas já!
de ti hoje resta apenas
umas barracas pequenas
uns poços de d’agua salobra
tabuas que arrancam rapazes
mil raills aos ‘zigue-zagues’
similhando enorme cobra!
há uma circunvalação
um enorme barracão
que se chamava estação
machinas e vagons velhos
pregos idem de sobejo
enorme material
augura um triste final.



Texto de Zé de Fanares e Hugo Nicolau

sábado, 26 de agosto de 2017

Larmanjat “a noticia”

O acontecimento da chegada do Larmanjat a Sintra foi, como não podia deixar de ser, “a notícia”. Saloios e alfacinhas, pobres e ricos, novos e velhos e principalmente gente letrada, incluindo a classe política, não falavam de outra coisa. Em Mem Martins, muitos gabavam-se de ter assistido à sua primeira passagem, na Estrada Real.


Os jornais da époc
a não ficaram indiferentes. Transcreve-se a notícia publicada no diário ilustrado do dia 3 de Julho de 1873: «Ás 9horas da manhã de hontem, 2 de Julho, partiu da estação provisória das portas do Rego um comboyo, levando muitos dignitários e os representantes da imprensa de Lisboa. A locomotiva era o nº7 e puxava quatro carruagens.

O trajecto entre as estações de Lisboa e Cintra fez-se regularissimamente em duas horas menos cinco minutos. Houve três paragens de alguns minutos em Bemfica; no Cacem e em Reinholas, consumindo-se entre todas não mais talvez de um quarto de hora, e metendo a machina água, nas duas últimas (…)


Na estrada, à saída de Lisboa, muito povo presenceava este acontecimento notável, que representa mais um passo no caminho do progresso d’este paiz. Em todo o caminho havia muito quem o saudasse. E na Villa Estephania, estavam junto da estação, adornada com flôres e bandeiras, muitas damas e muitos cavalheiros; a charanga de lanceiros que tocava o hymno de el-rei o sr.D.Luiz I; e uma força de infanteria 5.

Era geral a alegria que se manifestava no semblante de todos. Subiram ao ar muitos foguetes. A impresa de Lisboa prestou a devida homenagem a este melhoramento que vae collocar, para assim dizermos, o paraíso de Byron ás portas da capital do reino
»


Texto de Zé de Fanares e Hugo Nicolau.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

[Diário de Noticias] De fio em fio, se ganha a liderança mundial

A Filkemp é uma PME com fábrica nos arredores de Lisboa, líder mundial no mercado dos fornecedores de fios técnicos para tecer as telas para as máquinas da indústria de produção de papel.
A notícia não chegou às primeiras páginas dos jornais, mas no final de julho foi pescado um tubarão de 400 kg e quase três metros de comprimento, cinco milhas ao largo da ilha da Fuzeta, no Algarve. Entre a mordida no anzol e a captura do animal passaram quase duas horas de intenso combate, só possível graças à qualidade e alta resistência do fio usado na pescaria, produzido pela Filkemp. Uma PME portuguesa que é líder mundial no mercado de filamentos para uso industrial. Nunca ouviu falar? É normal, garante José Inglês, vice-presidente para as áreas de Vendas e Marketing da empresa. "Não é uma empresa muito visível e não nos interessa ter destaque em Portugal. Aqui o mercado é pequeno e só absorve 2% da nossa produção, explica o sócio executivo.

Os restantes 98% das quatro mil toneladas anuais produzidas na fábrica situada em Mem Martins, nos arredores de Lisboa, seguem para quase todos os países do mundo, com a Alemanha e a China a liderarem a lista de mercados externos. Em conjunto, para estes dois países a Filkemp exporta 55% da produção. Espanha é o terceiro maior mercado. A empresa conta com 167 trabalhadores, seis unidades de negócio, 19 linhas de produção em 27 mil metros quadrados, e este ano deverá faturar 19,5 milhões de euros, quase quatro vezes mais do que os cinco milhões de vendas registados em 1998, quando se deu o management buy out, separando-se do grupo Hoechst. Até esse momento, a pequena unidade industrial situada na cauda da Europa estava autorizada apenas a fabricar fio de pesca, considerado um produto menor aos olhos dos donos alemães.

"Em 2001 começámos do zero nos fios técnicos e chegámos a líderes mundiais porque fomos roubando quota de mercado às nossas concorrentes. Tínhamos o know how e éramos mais simpáticos e mais flexíveis do que os alemães. Para os clientes foi uma lufada de ar fresco. Além disso garantimos a mesma qualidade a preços mais competitivos, por causa dos salários mais baixos em Portugal", conta José Inglês, que não esconde: "A China é o nosso maior orgulho". A Filkemp rumou para o gigante asiático à boleia dos seus clientes globais que tinham fábricas na China e hoje em dia fornece também grandes clientes chineses da indústria de produção de papel. Na prática, e entre muitas outras coisas, a Filkemp produz os fios de poliéster usados nas telas de grandes dimensões das máquinas que produzem papel. Aqui o segredo do sucesso da PME é a garantia de qualidade dos filamentos: "Tudo começa no fio. Se a tela não tiver qualidade começa a saltar, a máquina tem de abrandar a velocidade e isso causa grandes perdas de produtividade."

Apesar de existirem muitas oportunidades no maior mercado do mundo, "na China não conseguimos crescer mais, por isso começámos a olhar também para a Índia, México, Canadá. Temos de estar atentos ao que vai acontecer a seguir e em que mercados".

Foi desta forma que em 2011 a Filkemp se lançou numa nova área de negócio: os fios abrasivos, com diamante, cerâmica e sílica, para fazer polimento industrial, sobretudo na indústria automóvel. Também aqui começaram do zero e hoje são número dois da Europa. "Esse é um dos nossos objetivos: qualquer área em que entramos queremos estar entre os três maiores, só isso faz sentido", explica José Inglês. Mais recentemente, em 2014, a Filkemp lançou--se na área da impressão 3D, com a produção de fio que serve como toner para as impressoras de última geração. Um negócio ainda embrionário, de apenas 15 toneladas por ano, mas que a empresa espera que no início de 2019 esteja já a valer acima de um milhão de euros. No capítulo dos investimentos, a Filkemp dedica em média 1,5 milhões de euros por ano, sobretudo em máquinas, estando prevista a compra de um novo terreno para o armazém de matérias-primas e a instalação de quatro novas linhas de produção para chegar a uma faturação recorde de 20 milhões de euros em 2018. Quanto à liderança mundial, José Inglês reconhece: "Não é um posto, conquista-se e mantém-se graças a novos investimentos e soluções. O futuro é esse: sermos sempre melhores".

sábado, 19 de agosto de 2017

[Expresso] Uma playlist por dia: manual de sobrevivência nos subúrbios

Por aqui teremos canções até esta sexta-feira. Não são playlists como antigamente, gravadas em cassetes saudosas, mas vêm com o mesmo amor e devoção dessas playlists de outrora

A música pop nunca será efémera, ao contrário do que dizem por aí. Nem irá morrer, pelo menos na memória de quem tinha o quarto forrado com posters, casacos de ganga cravados de crachás ou uma coleção de singles (se a memória não me engana, custavam 250 escudos, o que equivaleria hoje a 1,25 euros) comprados na Limite ou no centro comercial Galáxia depois de espremidas as poupanças. A ideia era ouvir o lado A até à exaustão. Quando isso acontecia virávamos para o lado B, tentando gostar dele mesmo que fosse mais fraquinho. Era-o quase sempre, mas nunca o admitíamos, nem a nós próprios.

A descoberta da pop começou com a cena neorromântica. Bandas com penteados coloridos e a desafiar a gravidade, roupas futuristas e refrãos orelhudos que nos punham a dançar de olhos fechados e a desejar secretamente sermos o Simon Le Bon ou o John Taylor da escola preparatória. Os telediscos (uma novidade na altura) eram como fogo de artifício que não nos deixava tirar os olhos da televisão.

A febre seguinte já era mais séria. Ainda tinha a ver com estilo, pose, roupa, penteados... Olhando para trás, se calhar tinha principalmente a ver com estilo, pose, roupa, penteados... mas as letras levavam-nos até outras dimensões. Eram escritas por uns tipos dez anos mais velhos do que nós que também tinham crescido em subúrbios desinteressantes de cidades industriais inglesas. Havia tristeza, melancolia na voz, mas também algum hedonismo saído dos sintetizadores, sequenciadores e caixas de ritmos. Um cocktail de emoções up, down and turn around que se tornou numa dependência saudável, injetada diretamente nos ouvidos. E também um escape perfeito à paisagem que me acompanhava no trajeto entre casa, secundária e mais tarde universidade. Sem a pop, mais ou menos alternativa, dos Joy Division/New Order, The Cure, The Smiths, Depeche Mode ou The Jesus and Mary Chain, o percurso percorrido até aqui não teria tido metade da piada.

Também seriam mais cinzentos os dias sem as noites na cabina de DJ do Kafka. Como é que nunca ouviram falar no bar que embalava a nightlife em Mem-Martins? Imperdoável. Adiante: a viagem musical levar-me-ia até às estações de Madchester, à brit-pop londrina e ao trip-hop de Bristol (inexplicavelmente, ou não, Seattle ficou fora de rota). Estas revelaram-se no entanto terapias hormonais de substituição dos mestres Ian Curtis, Robert Smith, Morrissey, Ian McCulloch e irmãos Reid.

As pistas que estes senhores deixaram pelo caminho levaram-me até aos seus herdeiros musicais: os M83, os Hot Chip, a La Roux, os The XX, ou os Cut Copy serão uma espécie de netos, alguns mais afastados, daqueles avozinhos de gabardina. Não vão ter a mesma longevidade (a indústria musical é ainda mais voraz do que nos eighties) mas soam frescos como uma salada tutti frutti numa tarde de verão.

Já não os oiço nos singles e LP de vinil (guardados na estante à espera de um gira-discos). Também não rabisco listas com o meu top20 em cadernos da escola. Mas o gozo pela pop (não demasiado açucarada e com vontade em ser independente) permanece imaculado. Fica aqui uma (condensada) playlist para ouvir sem guilty pleasures.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

FALA AÍ MALUCO #7 CYPHER RAP [video]



GROG NATION (Nasty Factor, Pappillon, Prizco, Neck, Harold) no FALA AÍ MALUCO sob a batuta de DJ STEREOSSAURO!  

'GROGNation' na Festa da Juventude em Mem Martins [video]

Espero muito sinceramente que depois das eleições autarquias deste ano, e independentemente dos vencedores, se possa manter e dar seguimento à realização anual da 'Festa da Juventude' na 'Quinta de Sta Teresinha' em Mem Martins.

Este ano contamos com grandes actuações, terminando com os 'GROGnation', jovens que orgulhosamente gritam o nome de Mem Martins por todo pais.
(Abaixo video com pequeno excerto do espectáculo)