A Câmara de Sintra vai requalificar a zona central
de Mem Martins, em torno da Avenida Chaby Pinheiro, num investimento de 600 mil
euros. A intenção é conferir prioridade à circulação pedonal em detrimento do
automóvel, mas os problemas de estacionamento continuam no centro das
principais preocupações de comerciantes e moradores.
O reforço da identidade do núcleo central de Mem
Martins, que, há algumas décadas, muitos apelidavam de “Chiado de Sintra”, é o
objectivo do
projecto de requalificação da Avenida Chaby Pinheiro, que foi
apresentado, no passado dia 20 de Janeiro, nas instalações da Junta de
Freguesia de Algueirão-Mem Martins.
Entre as medidas do projecto, da autoria da
arquitecta paisagista Maria João Albino. está a revitalização da vocação comercial
da área a intervencionar, com cerca de 10.775 metros quadrados, que abrange ainda
as ruas Domingos Saraiva, dos Lírios e Madressilva e a Estrada do Algueirão.
O projecto contempla o alargamento dos passeios e
redução da área de circulação automóvel, com reperfilamento da via e o
reordenamento do estacionamento, que terá capacidade para 150 viaturas. Uma diminuição
de 16 lugares em relação à actual oferta de parqueamento, mas que, segundo a
autarquia, é justificada pela necessidade de dotar o espaço de áreas de lazer e
estadia.
A intervenção não implica a alteração de sentidos
de trânsito, com excepção da Rua dos Lírios que passará a ter sentido único em
toda a sua extensão, com o reordenamento dos lugares de estacionamento.
“De forma a ter passeios mais largos na Avenida Chaby
Pinheiro, vamos concentrar o estacionamento nas ruas Madressilva e dos Lírios,
daí estreitarmos a via para criar estacionamentos legais”, salientou a
arquitecta, que apontou para a dificuldade de aumentar a capacidade de
estacionamento por se tratar de “um espaço urbano consolidado”.
“Actualmente, este espaço é muito confuso em termos
viários e de estacionamento, mas também em termos pedonais, por influência até da
proximidade à estação ferroviária”, acentuou Maria João Albino. “Mas, todo este
movimento e dinamismo também é muito importante porque a Avenida Chaby
Pinheiro, além de ser o principal eixo viário de Mem Martins, também é o principal eixo comercial”,
sublinhou a arquitecta, que enunciou a aposta em recuperar “o dinamismo e
importância” da artéria em termos do concelho, em que já foi apelidado de “Chiado
de Sintra”.
“O objectivo é, essencialmente, proporcionar um alargamento
dos passeios de forma a que as pessoas possam percorrer a avenida, nas suas
compras e nos seus circuitos diários, e viver e
apropriar-se do espaço”, reforçou a autora do
projecto, que identificou a actual inexistência de mobiliário urbano, que se
resume a floreiras e vasos com vista a impedir o estacionamento em cima dos passeios.
“Queremos ordenar o estacionamento automóvel, que os carros parem no seu devido
lugar, e que o mobiliário urbano sirva para usufruto das pessoas: bancos
confortáveis, floreiras agradáveis...”, frisou Maria João Albino.
O projecto abrange a manutenção das árvores existentes,
para além da plantação de novos exemplares em alinhamento, para melhorar o ambiente
urbano. Em simultâneo com a intervenção, que terá um prazo de execução de 12
meses, serão renovadas as redes de infra-estruturas e reforçada a iluminação
pública.
O défice de estacionamento acabou por constituir o
principal problema identificado por moradores e comerciantes, que também
apontaram o dedo às forças policiais.
“A polícia não está a autuar quem estaciona de
qualquer forma”, lamentou uma comerciante, denunciando “os carros estacionados
em cima dos passeios, impedindo até a passagem de peões”. O tempo de intervenção da PSP, quando chamada
devido a estacionamento em segunda fila, “ultrapassa a meia hora”. “Ali na Rua
dos Lírios, aquilo é o caos, ficamos completamente tapados”, lamentou outra
comerciante.
Um morador recordou que há meio século o núcleo
urbano se resumia a moradias. “Dava gosto viver, mas hoje, 50 anos depois, não
gosto da terra”, confessou este residente em Mem Martins há 50 anos.
“Seria útil aproveitar alguns espaços, os poucos
que existem e que a Câmara poderia negociar, para parqueamentos e retirar o
estacionamento da zona central”, desafiou este munícipe, referindo-se a
terrenos livres na envolvente da estação ferroviária. “Já fizeram parques ao longo
da linha e Mem Martins continua a ser o parente pobre”, lamentou.
Uma comerciante questionou, ainda, o ponto de
situação em relação à implementação de parquímetros na zona, já que os clientes
do comércio local não dispõem de lugares para estacionar. “As pessoas vão
trabalhar para Lisboa e está aqui o carro parado, oito ou dez horas, e os
nossos clientes não conseguem arranjar lugar”, lamentou a empresária.
Para o presidente da Junta de Freguesia de
Algueirão-Mem Martins, Valter Januário, a requalificação da Avenida Chaby Pinheiro
“já era exigida há muito tempo” e congratulou-se com o avanço do processo “em boa
hora”.
“São cerca de 600 mil euros de investimento nesta
zona crucial de Mem Martins”, realçou o autarca. “O princípio subjacente foi
devolver as ruas às pessoas, sobretudo para que possam conviver, para que possam
estar e usufruir deste espaço”, sublinhou Valter Januário, salientando que a requalificação
vai contribuir para a própria dinâmica do comércio local.
Sobre as questões levantadasno decurso da sessão
pública, o presidente da Câmara, Basílio Horta, anunciou a intenção de efectuar
“um inventário dos terrenos que possam ser objecto de instalação de parques de
estacionamento” e, em relação à actuação das forças de segurança,
comprometeu-se em efectuar diligências junto da Divisão de Sintra e da ministra
da Administração Interna. Quanto aos contornos do projecto, o edil reafirmou a
aposta conferida “às pessoas” em detrimento dos carros, na requalificação do
espaço público, “para que sejam criadas esplanadas, as pessoas possam estar e
fazer as suas compras”.
João Carlos Sebastião