Tempo em Algueirão Mem Martins

quarta-feira, 31 de maio de 2023

[Correio de Sintra] Urbanização da Quinta da Marquesa com novo começo

A Câmara de Sintra assinou no passado dia 19 de maio, o contrato de urbanização da Quinta da Marquesa, localizada na Tapada das Mercês, na Freguesia de Algueirão-Mem Martins.


O documento, tem como objetivo definir o aproveitamento dos terrenos para a urbanização e edificação deste projeto, face às prescrições do Plano Diretor Municipal (PDM) de Sintra, bem como garantir um desenvolvimento urbano harmonioso, que respeite a correta dotação de espaços verdes de utilização coletiva e de equipamentos de utilidade pública.

O projeto da Quinta da Marquesa foi elaborado pela Câmara Municipal de Sintra e compreende uma área total de construção de 400.767 m² e de implantação de 147.691 m². “O desenvolvimento deste projeto tem subjacente o conceito de cidade compacta, intimamente ligado ao desenvolvimento urbano sustentável e à qualidade de vida, que apresenta vários benefícios ao nível ambiental, social e económico”, pode ler-se, em nota enviada ao CORREIO DE SINTRA.

Prevê-se também a criação de um Parque Urbano com cerca de 30 hectares, composto por equipamentos desportivos e educativos, e envolvido por espaços habitacionais, que apresentam uma relativa densidade, isto é, constituídos por blocos que variam aproximadamente entre os 3.000 m e os 7.000 m de área de construção, o que permitirá uma densidade média de 30 fogos por quarteirão (120 por unidade), considerando que 75 % seja destinado ao uso habitacional e os restantes 25% para atividades económicas. 

Dia da Criança 2023

 


sexta-feira, 19 de maio de 2023

[CM Sintra] Basílio Horta e o Ministro da Saúde visitaram as obras do novo Hospital de Sintra

O presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, e o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, visitaram as obras do futuro Hospital de Sintra, na manhã desta segunda-feira.

Localizado no Bairro da Cavaleira, na freguesia de Algueirão - Mem Martins, a Câmara Municipal de Sintra tem atualmente em curso os trabalhos de construção do novo hospital, num investimento da autarquia superior a 45 milhões de euros.

Para Basílio Horta, “a construção deste novo hospital era há muito desejada e essencial para um concelho com quase 400 mil habitantes. Não era possível continuar a depender apenas do, já muito sobrecarregado, Hospital Amadora-Sintra e nós tivemos que garantir meios financeiros para assumirmos esta responsabilidade, depois de décadas sem que este anseio dos nossos munícipes obtivesse resposta. É a primeira vez que uma Câmara Municipal entrega ao Estado, ao Ministério da Saúde, um hospital construído".

Durante esta visita, Manuel Pizarro referiu a importância de ter um hospital em vias de estar quase pronto, revelando que é esperada a sua finalização “em termos de infraestruturas físicas e de equipamento no primeiro trimestre de 2024, e o começo da sua plena operação no primeiro semestre desse ano”.

O funcionamento pleno desta nova unidade envolve o recrutamento de cerca de 600 profissionais de saúde, que “com as suas condições de infraestruturas, ar moderno e completamente atualizado, também terá a capacidade de atrair jovens profissionais”, sublinha o ministro.

A construção do novo Hospital de Sintra, que teve início durante o mês de agosto de 2021, irá servir 400 mil utentes e será composto por serviço de ambulatório, consultas externas e exames, unidade de saúde mental, medicina física de reabilitação, central de colheitas e os meios complementares de diagnóstico e terapêutica, unidade de cirurgia de ambulatório com bloco de cirurgia e recobro. Terá ainda serviço de urgência básica para servir cerca 60 mil urgências, cerca de metade das realizadas no Hospital Amadora-Sintra, Unidade de Convalescença com 60 camas, farmácia, unidade de esterilização e ainda um espaço para ensino e formação.

O novo hospital terá os serviços adequados de acolhimento aos seus utentes prevendo inclusive um local para a futura construção de um heliporto e ficará preparado para ampliar as suas respostas quer quanto às novas consultas de especialidade, quer quanto à construção de dois pisos para instalação até mais 120 camas de convalescença.


Fonte: https://cm-sintra.pt/atualidade/noticias-institucional/basilio-horta-e-o-ministro-da-saude-visitaram-as-obras-do-novo-hospital-de-sintra?fbclid=IwAR1ZcT8QNmFveasAU0blqEioC56tPRmEqNmQh0_y5526dQPTS3KC6XYb-y4

Feira da Doçaria 2023, na Cavaleira

No Parque Urbano da Cavaleira, no Algueirão,
receberá a primeira edição da Feira da Doçaria.



Rua Cidade de Évora, no Algueirão
                                    (38.8078; -9.3474)

Nova Imagem Gráfica da "Junta Freguesia" [video]

“A nossa marca remete para este ponto de identidade territorial que tanto caracteriza o nosso quotidiano, a nossa arte urbana ou a própria vivência naquela que é chamada, a linha de Sintra”.

“Algueirão-Mem Martins projeta-se no seu próprio território, entre o rural e o urbano, entre a diversidade e multiculturalidade, unindo-se por si só”, argumenta Valter Januário que se mostra agradado com a nova identidade gráfica. “A Junta de Freguesia de Algueirão – Mem Martins está mais dinâmica. Mais moderna. Mais leve!”.

domingo, 7 de maio de 2023

[aMensagem] Tristany, a arte de expor como se vive em Algueirão-Mem Martins

 Tristan, a arte de expor como se vive em Algueirão-Mem Martins: “É um sítio bom para sonhar que as coisas possam melhorar


O artista multidisciplinar de 27 anos, que se tem debruçado sobre a cultura da periferia de Lisboa, vai atuar — de forma bastante simbólica — esta sexta-feira na estação de comboios do Rossio, a convite do festival Lisboa 5L.



Para quem vem da Linha de Sintra, o Rossio parece que é um portal mágico, de repente estás num sítio novo”, diz Tristany, cantor, artista multifacetado de 27 anos, nascido e criado em Algueirão-Mem Martins, sobre a experiência, repetida vezes sem conta, de sair na estação de comboios e dar de caras com a Baixa de Lisboa.

Para as milhares e milhares de pessoas que vivem no concelho de Sintra, o comboio é o meio de transporte mais comum. É “a” forma de chegar ao centro. Mas a relação de Tristany com esta estação em particular vem desde muito cedo. “Desde bebé. Era onde me iam buscar para ir para a creche. Deixavam-me no Rossio e havia uma camioneta que me levava.”

Mais tarde, foi também o “portal” para explorar “a curiosidade de ir a Lisboa pelas primeiras vezes”, com os seus amigos de Mem Martins. E, claro, o início do “sair à noite”. “Tenho um carinho especial por este lugar. É uma estação onde já vivi muitas emoções.”

Esta sexta-feira, 5 de maio, pelas 19 horas, soma mais uma memória na Estação do Rossio: no Festival Lisboa 5L, Tristany vai apresentar uma performance numa das pontes da parte superior do edifício – precisamente onde as pessoas desembarcam dos comboios da Linha de Sintra e prosseguem as suas vidas.

“Àquela hora, os turistas devem estar a voltar [de Sintra], as pessoas devem estar a ir para casa… Estou bué grato pela experiência. É muito especial, fiquei muito contente, é um grande desafio.”

Tristany vai interpretar versões mais experimentais das canções do seu álbum lançado em 2020, “Meia Riba Kalxa”, mas a atuação também terá uma componente expositiva, com algumas peças criadas no ano passado para a mostra “Interferências”, do coletivo Unidigrazz (do qual faz parte), apresentada no MAAT. Acaba por representar uma transição entre “Meia Riba Kalxa” e o seu segundo álbum, que tem estado a preparar. “É um apeadeiro…”

Esta só pode ser uma atuação na estação do Rossio simbólica, sendo Tristany de um subúrbio e alguém que tem reclamado essa identidade e enaltecido a falta de visibilidade a que muitas vezes as pessoas da periferia estão sujeitas, com a ocupação de um espaço central, o último destino em tantas viagens começadas na Linha de Sintra.

“Ya, sem dúvida. Tenho de reconhecer que se calhar tem um sabor diferente para uma pessoa com as características que eu tenho. Tem um sabor de vitória. Mas, no fundo, se eu pensasse assim, na minha cabeça isso era continuar a limitar-me. Quero normalizar a cena e se calhar ainda vou ficar mais feliz quando der um concerto na minha zona.”

Do Rossio a Mem Martins
A viagem começa precisamente na estação do Rossio. Até Algueirão-Mem Martins, a última paragem da Linha de Sintra antes da dita vila, são 33 minutos de percurso. Ou seriam, caso não existissem atrasos na CP.

Em Algueirão-Mem Martins, embora estejamos naquela que foi durante vários anos a freguesia mais populosa da Europa, a estação não foi transformada numa estrutura maior (ao contrário de outras paragens da Linha de Sintra) e continua a estar bastante imersa na vila. Do lado de cima da linha é Algueirão, do lado de baixo é Mem Martins.

Já vivi em Mem Martins, agora vivo no Algueirão, mas é indiferente. O código postal é o mesmo [risos]. A única coisa que separa é a linha do comboio”, explica Tristany. Usa um cap e óculos de sol, uma T-shirt branca, calças de fato treino e sapatos de vela. Não é a combinação mais comum, mas nada em Tristany é assim.

A linha do comboio também divide Massamá e Barcarena, sendo que esta última já fica no concelho de Oeiras. “Por acaso só soube disso de Barcarena no ano passado”, diz Tristany. “E é muito raro veres pessoas [a saírem do comboio] a irem para o lado de Barcarena.

Algueirão-Mem Martins é o habitat natural de Tristany, o sítio onde sempre viveu — a mãe, a cantora portuguesa Ritta Tristany, já ali morava. O pai, o músico luso-angolano Firmino Pascoal, vivera antes no Barreiro. O irmão de Tristany, que assina simplesmente como Trista, também é músico. Faz parte do popular coletivo de hip hop Instinto 26, ao lado de Julinho KSD, Yuran e Kibow.

Está uma tarde soalheira e de céu limpo, e Tristany aponta o facto de aqui ser raro não haver estacionamento. Há poucos prédios de grande dimensão, pelo que os mais de 68 mil habitantes (de acordo com os censos de 2021) se dividem sobretudo entre pequenos edifícios e vivendas.

Na rua não falta movimento: pessoas que passeiam cães, reformados que fazem compras ou dão os seus passeios diários, carros que circulam e só param quando atravessamos a passadeira.

“Tenho orgulho, mas não tenho a coisa de ‘só aqui é que é a cena’. Mas tenho orgulho de ter nascido e crescido aqui e tudo o que isso me proporcionou até hoje. Gosto da Linha de Sintra em geral, gosto de viver aqui, gosto de Portugal em geral. O espaço em si é incrível. Este sol, estar perto do mar… Sei lá, é um sítio bom para se sonhar com que as coisas possam melhorar”, diz Tristany, enquanto se aproxima de uma mercearia de produtos africanos.

“A minha dica era virmos aqui, mas se estiver… Olá, tia, já vou aí!”, comenta para a senhora atrás do balcão, que o cumprimenta efusivamente. Tristany vive a 10 minutos dali e desce umas escadas rumo a uma praceta. “Sinto que em Mem Martins estamos habituados a andar bué. Porque temos a vantagem de ser um sítio plano. O único sítio onde tens de subir é a Tapada das Mercês. Quando é miúdo o pessoal está habituado a andar.

Chega a um largo onde está a ser feita uma vasta obra: “Isto antigamente era um mercado, aqui também se fazia a feira. Agora é feita na Tapada.” Ele tem memórias disso. “Sim, tenho memórias vagas de vir aqui com a minha avó, mas também havia noutros sítios e também ia. Ainda vou às Mercês e também tens a feira do Monte Abraão”.

Passa rap a um volume considerável. “Não costumam passar carros nenhuns aqui, mas agora estão bués.”

Será que as pessoas de Mem Martins têm mais ligação a Sintra do que as pessoas de outras zonas da Linha de Sintra? Tristany anui com a cabeça. “Sim, sinto isso. Acho que Rio de Mouro, Mercês e Mem Martins têm essa proximidade. Esse corte é um bocado feito a partir do Cacém. Também existe aquele pequeno ego de quem está mais próximo de Lisboa [risos].”

Tristany vira-se para os encantos de viver perto de Sintra. “Exploramos bué a Serra. Sintra é um sítio fixe, a vila e a natureza que ela tem. Às vezes é um bom escape. É um sítio incrível”, diz. Ou seja, também ele sente necessidade de escapar da cena urbana? “Às vezes sinto. Agora também não estou tanto tempo na rua como há uns anos. Mas sinto que é fixe: só a cena de não ter carros, poder andar mais tranquilamente e ver o mar, ter um contacto comigo próprio e com a natureza… Ultimamente tenho tirado proveito disso”, surpreende

Arte a full-time?
E ele, já consegue viver da sua arte? Desde que lançou o (aclamado) álbum “Meia Riba Kalxa” que se tem dedicado apenas ao seu trabalho artístico. Mas admite estar numa fase de mudança.

Sinto que tenho a opção de continuar a full-time na arte. Mas, por opção, ultimamente tenho experimentado vários trabalhos. Obras, restauração… Pequenas experiências, não chegam a um ou dois meses. Para ganhar… É como se fosse uma universidade da vida real. Uma cena que sinto é a cena da maturidade, é aquilo que pretendo mais ganhar além de fazer aquilo de que gosto, que continuo a fazer. Estou a preparar um novo álbum.

Tristany relembra que o facto de ter os projetos da Unidigrazz também lhe garante mais independência financeira. O coletivo formado com amigos de Algueirão-Mem Martins (como Diogo “Gazella” Carvalho, Onun Trigueiros, Sepher e Rappepa Bedju Tempu) tem vindo a fazer inúmeros trabalhos artísticos — cruzando artes visuais com cinema, fotografia ou teatro — e têm sido bem acolhidos por entidades importantes da cena artística lisboeta. Além de terem tido uma exposição no MAAT, estiveram na última edição do Festival Iminente e agora estão a preparar uma exposição em conjunto com a galeria Underdogs, 
de Vhils, que será inaugurada entre “o final do verão e o início de outubro”.

Para nós é sempre um trabalho para aqui, para a região. É trabalhar o que está aqui e trazer visibilidade. O maior objetivo é, com as obras que estão a ser criadas, expor aquilo que se vive e aquilo que se vivenciou aqui. A proposta da Unidigrazz é trazer soluções, o mindset é esse. Porque, se não, não se consegue avançar. As soluções têm de ser fixes — e vão e estão a ser. Isso é o mais gratificante de tudo. E não é um trabalho que é só nosso. Está a ser super bem representado, por exemplo, pelo [rapper e produtor] T-Rex [de Monte Abraão]. E isso é o que dá mais prazer: perceber que as pessoas com quem crescemos, que existe perspetiva, projeção e há uma cena de querer romper e participar. Sinto que todos fazemos esse papel e que toda a gente está a contribuir. Veres que as pessoas com quem cresceste fazem aquilo que sonharam é a cena mais fixe e inspiradora. Aqueles que são jogadores de futebol são jogadores de futebol, os médicos, os arquitetos…”, diz.

Consigo traz duas peças que fizeram parte da instalação inicial de “Interferências”, a tal exposição que apresentaram no MAAT. Ao todo, transformaram cinco fotografias tiradas por ele e por Diogo “Gazella” Carvalho em bandeiras.

A banda sonora era “Hinu Digra”, uma espécie de remake de “A Portuguesa”, o hino português, com que Tristany abriu o seu álbum “Meia Riba Kalxa”.

Tristany partiu da cultura hip hop mais convencional, tão entranhada na Linha de Sintra e em particular em Algueirão-Mem Martins, mas desde cedo cedeu à experimentação e construiu uma identidade artística singular, que se tem materializado cada vez mais pelo facto de a sua obra ser tão multidisciplinar.

“Inconscientemente talvez já tivesse essa ideia de fazer trabalhos multidisciplinares e questionava isso, mas se calhar só ganhei a confiança… Se calhar só a estou ganhar agora. Posso ter pessoas à volta que estão em múltiplas formas artísticas. Acho que agora é mesmo esse o statement, é esse o meu principal objetivo.”

E Lisboa? Tudo é Lisboa?
Será que o facto de ter crescido na periferia, e a visibilidade que Tristany reclama com os seus projetos para as enormes comunidades que pouca projeção têm em certos circuitos, muda alguma coisa na relação com Lisboa? – questionámos.

“Nós às vezes esquecemo-nos de que temos pés. Ou, sei lá… cotovelos. As partes que achamos mais insignificantes do nosso corpo, mas que são fundamentais para conseguirmos andar. Temos que tentar entender, por mais difícil que seja, a importância de cada parte. É a ideia de haver um sentimento global. A minha música vai abordar mais coisas. Mas ela parte de um sítio onde existem essas inquietudes, muitas questões que não estão a ser resolvidas. Espero que a música, e o meu trabalho, seja uma possível solução.”

Tristany sublinha, porém, que o espaço não é limitativo.
“Podes ser daqui e não teres de te preocupar com isso. Ou até podes ser uma pessoa que vive no centro e está super preocupada com estas questões. O que interessa é que haja um equilíbrio. E é muito importante que haja uma comunicação, que as pessoas se consigam verdadeiramente entender. Se desse para apelar a alguma cena, seria essa.”

Acaba por descrever, de forma intrigante, a sua relação com a cidade de Lisboa como “interesseira”.

“De eu para ela, ela para mim… Eu também nasci e cresci em Lisboa, não é? É um espaço. E esse espaço tem de ser meu. Esse espaço é meu. Se um dia quiser e tiver possibilidade, quero viver em Lisboa. Estou só a dar um exemplo, não me interessa onde vivo… Mas quero poder permitir-me isso. Poder pertencer. E eu posso pertencer. Não me posso limitar com isso. Lisboa é minha também. Não é também: Lisboa é minha”, diz, antes de esboçar um sorriso. “Mas Sintra é um amor diferente, é um carinho especial [risos]. Especificamente a Linha de Sintra.”

Numa entrevista, uma das primeiras que fez, Tristany explicava que uma temporada que tinha passado em Londres, tinha representado um ponto de viragem. Tinha encontrado outra Linha de Sintra, no sentido em que muitos amigos com quem cresceu tinham emigrado para lá, e que isso o fez valorizar mais a sua cultura suburbana. Na altura, já fazia rap de forma mais tradicional, de padrões mais norte-americanos, mas foi a partir daí que começou a desenvolver uma maior identidade relacionada com os seus códigos locais.

“Isso aconteceu-me especificamente em Londres mas também já me aconteceu noutros sítios, onde estão amigos vindos daqui. Vais a casa das pessoas e parece que há um microcosmos. É uma porta para estar aqui, mas é um ‘aqui’ que já não existe. Porque aqui continua a mudar, está em constante transformação. E quando estou lá fora parece, neste caso, uma Linha de Sintra ou uma Lisboa que já não existe.

É bom crescer, aprender e constatar que podemos ser de algum sítio, se quisermos. Porque tu podes ter ou não documentos, ter ou não casa, mas não é só isso que define tu pertenceres a algum lado. Vai muito além disso, é um sentimento de pertença.”

E esse sentimento de pertença?

“É uma constante soma. Já tive fases em que via as coisas de maneira diferente, sentia-me mais condicionado. Noutras sinto que posso transformar isto. São várias emoções que se vão acrescentando. No fundo é crescer.”

Muitas vezes, também existe a ideia pré-concebida de que “lá fora é melhor”? 

“Também é uma coisa que estamos constantemente a ouvir. E, fora tudo aquilo que sabemos que é mau ou que uns vivem mais do que outros, isto é um sítio com muito potencial. Abrangendo tudo, não só a Linha de Sintra. O meu maior desejo é poder continuar a estar num sítio e a construir memórias e a acrescentar sentimentos. Isso é uma bênção. Poder sair e voltar, ou poder ficar aqui e ‘uau, agora ainda gosto mais deste sítio’.”

Assume-se como um otimista?
Onde há pessoas há esperança. Há uma possibilidade de aprendizagem.” Quando era adolescente, o facto de dois dos seus amigos mais próximos — com quem hoje colabora no coletivo Unidigrazz — terem ido estudar para a Escola Artística António Arroio, no centro de Lisboa, foi determinante. 

Eles deram-nos esse acesso, começámos a conhecer pessoas de Lisboa, de outros sítios e contextos. Permitiu-me falar com pessoas com que se calhar não consigo falar aqui. Que têm um tempo diferente. O facto de viverem em Lisboa pode permitir que tenham mais tempo para certas coisas. Então foi fixe para haver um diálogo, um crescimento mútuo. Felizmente eles foram esses nossos peregrinos e a partir daí começámos a navegar e a conhecer pessoas fixes, daqui e dacolá.

Centro e periferia: as diferenças?

Começamos a refletir sobre as diferenças entre os subúrbios — neste caso, a Linha de Sintra — e o centro da cidade. “Sinto que os espaços não foram pensados para que as pessoas possam interagir entre elas. Por exemplo, aqui temos um espaço imenso bué fixe”, diz, enquanto aponta para a zona desafogada junto da ribeira.

“Se calhar poderia haver grelhadores públicos para o pessoal fazer uma assada. Isso não é estimulado. Se há sítios com essa possibilidade é possível que as pessoas fiquem aqui até às tantas a fazer barulho. E as pessoas querem dormir, etc., é uma bola de neve. Se calhar os sítios não foram desenhados para as pessoas, mas lá está o meu lado otimista: o Dubai também era um deserto. Se calhar de forma não tão inimiga do ambiente e megalómana [risos], mas acredito que podemos redefinir e redesenhar o nosso espaço, porque temos essa possibilidade.”

E a falta de oferta cultural? Nesta zona são raros os concertos — nem existem espaços para atuações de grande dimensão. Algueirão-Mem Martins, em particular, tem-se revelado uma freguesia repleta de talentos na área da música (mas não só, claro). Desde Julinho KSD aos GROGNation, passando por Bispo ou Landim, foram muitos os que construíram carreiras de sucesso ao longo dos últimos anos.

“Há muito potencial. Não é só aquela coisa genérica de dizer que no bairro há talento. Sinto que as proporções que se estão a alcançar são proporções que podem levar a outras maneiras de se poder viver nestes espaços…”

E, atenção, nem todos os casos estão relacionados com a cultura hip hop, como aponta Tristany.

“Por exemplo, Mem Martins também tem bué pessoas do rock. Os Rádio Macau vieram daqui. Havia os V12, uma banda de heavy metal.” E os Excesso. “Os Excesso, a sério?! Ah, não sabia. Mas fico contente. Até a música mainstream… Quer dizer, hoje em dia também já há”, diz, entre sorrisos, orgulhoso dos feitos de vários dos seus amigos e referências locais.

Landim talvez tenha sido a sua primeira referência da zona. “Eu chegava e olhava para o Landim e ficava wow… Para mim ele era igual a um rapper americano. Grande cena. E ficava a pensar como é que faziam os videoclips. 

E o o estigma de ser do subúrbio e da Linha de Sintra? E o tom de pele, o sotaque, os códigos de rua… 

“Sim, claro que sentes. Mas às vezes não é explícito. Quando estás aqui, se não saíres muito, não sentes isso. Só começas a sentir quando começas a perceber outras questões. Porque é que eu vou sair à noite em Lisboa? Porque é que os bares só estão abertos até à noite em Lisboa? Mas se uma pessoa quiser viver cega consegue. E não tem mal nenhum”, acredita.

Apesar de todas as adversidades, Tristany sente um profundo orgulho e felicidade por aquilo a que ele e os amigos chamam “sintranagem”. “É um termo inventado pelo Mani [com quem teve o grupo de rap Monte Real]. É isto aqui. É o que não se explica, mas se sente, quando estás aqui.”

Tristany aponta que o “bairrismo” nalguns locais da capital apresenta dinâmicas distintas. “Aqui é mais tranquilo, passas mais despercebido. E é diferente, porque as pessoas não estão cá [durante o dia], estão constantemente a chegar ao longo da tarde.”


FONTE: https://amensagem.pt/2023/05/05/tristany-algueirao-mem-martins-arte-rossio/