A Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa promoveu um estudo sobre a satisfação dos utilizadores de transportes públicos.
Usar
transportes públicos continua a ser visto por muitos como um castigo: de acordo
com um inquérito realizado a cerca de dois mil habitantes da Área Metropolitana
de Lisboa (AML), as pessoas que não se deslocam naqueles transportes dizem que
deixar de ter automóvel ou sofrer uma redução de rendimentos seriam as
principais razões que as poderiam fazer mudar de ideias. Acresce que para 60%
dos não utilizadores vir a viajar de autocarro, metro, comboio ou barco é uma
hipótese que nem sequer é equacionada. Estes são alguns dos
resultados do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos da
AML, um trabalho que foi encomendado pela Autoridade Metropolitana de
Transportes de Lisboa (AMTL) ao ISCTE e cujos principais resultados foram dados
a conhecer esta sexta-feira. A juntar ao já referido inquérito, que foi
aplicado a 2008 pessoas, o estudo coordenado pela professora catedrática
Elizabeth Reis incluiu 18 entrevistas etnográficas e seisfocus groups.
Além
do perfil sócio-demográfico e de mobilidade dos habitantes da AML, incluindo
qual a origem e o destino das suas deslocações, os inquéritos procuraram aferir
qual o seu grau de satisfação com os transportes públicos. Nesse âmbito foram
ouvidos não só clientes regulares dos mesmos, mas também pessoas que deixaram
de os utilizar há menos de cinco anos e outras que não viajam neles há mais
tempo do que isso. Olhando
para o último grupo (que representa 41% dos inquiridos) verifica-se que 60% dos
não utilizadores de transportes públicos dizem que com certeza que não virão a
fazê-lo no futuro e que 23% o consideram pouco provável. Deixar de ter
automóvel ou sofrer uma redução do rendimento são as razões mais apontadas para
uma eventual alteração de atitude, seguindo-se a mudança de local de
trabalho/escola/residência.
Entre aqueles que deixaram de utilizar transportes públicos nos últimos cinco anos
(16% dos inquiridos), a perspectiva é mais animadora para os operadores: 34%
afirmam com certeza que não voltarão atrás na sua decisão e 32% consideram
pouco provável voltarem a andar de autocarro, metro, comboio ou barco.
E
porque é que essas pessoas deixaram de andar de transportes públicos? Segundo
os resultados do Estudo de Satisfação dos Utilizadores de Transportes Públicos
da AML, que foram apresentados pelo director executivo e pela directora técnica
da empresa de investigação e estudos de mercado Pitagórica, a mudança do local
de trabalho/escola/residência foi o factor que mais pesou. Seguiu-se o facto de
terem passado à condição de reformados/desempregados ou a mudança para o
automóvel. Só depois disso surgiram elementos directamente associados ao
serviço prestado pelas empresas de transportes, como o tempo de deslocação, o
preço ou a comodidade/qualidade.
Olhando
apenas para os utilizadores, Alexandre Picoto e Rita Silva concluíram que há
uma “ideia globalmente positiva dos transportes públicos da AML” e que o
principal motivo para a sua utilização é económico. “Não é por ser mais
sustentável ou mais agradável”, notou o director executivo da Pitagórica,
frisando que “o racional é económico-financeiro”. Aos
utilizadores e ex-utilizadores de transportes públicos foi também pedido que
avaliassem um total de 26 indicadores. Contas feitas, aquilo com que as pessoas
estão mais satisfeitas é com a rapidez do percurso, com a distância até à
paragem ou estação, com o profissionalismo dos trabalhadores das empresas, com
a adequação dos percursos às suas necessidades e com a frequência de veículos
aos dias úteis. Já os aspectos mais contestados são o preço dos bilhetes
avulso, os transportes alternativos em períodos de greve, o preço dos passes
mensais, a frequência de veículos ao fim-de-semana e a frequência das
greves.
Durante
a sessão de apresentação deste estudo, o director de serviços de contratualização, fiscalização e financiamento da AMTL adiantou que no primeiro
semestre de 2014 os utentes dos transportes públicos fizeram 3492reclamações no chamado Livro Vermelho. Segundo
Hugo Oliveira, esta foi a primeira vez (desde 2011) em que o número de queixas
registado num período de seis meses ficou abaixo da barreira dos quatro mil. Explicando
que em média são recebidas nove mil reclamações por ano, o dirigente considerou
que esse é um número “muito alto”. Em relação aos visados nas queixas, Hugo
Oliveira notou que a empresa Transportes Sul do Tejo tem tido “uma tendência
muito crescente”. Quanto aos motivos que levam as pessoas a protestar, este
orador notou que as questões relativas aos títulos de transportes são “uma
constante”.
Carris? Multidão. Metro e CP? Greve e sardinha em lata
Que palavras são associadas aos diferentes operadores de transportes públicos
da Área Metropolitana de Lisboa? Nos focus groups em que participaram 42 pessoas, 93%
das quais utilizadoras regulares desses transportes, “multidão”, “confuso” e
“lento” foram algumas das palavras associadas à Carris.
O
termo “caro” foi ligado à Vimeca mas também à Rodoviária de Lisboa, em relação
à qual também se falou em “seca”. Para muitos, a Transportes Sul do Tejo é
sinónimo de “trânsito”, “poluente”, “lento” e “filas”.
A
CP é associada a “greve”, “sardinha em lata” e “rápido”, enquanto a Fertagus
tem essencialmente associações positivas: “seguro”, “pontual” e “rápido”.
Também o Metropolitano de Lisboa surge ligado às palavras “greve” e “sardinha
em lata”, enquanto a Metro Transportes do Tejo surge ligada a “ecológico” e
“confortável”, mas também “perigoso”.
“Mau
cheiro” e “pessoas mal cheirosas” são ideias que se associam a vários
operadores, mas só um é referido como não tendo greves: a Fertagus.