"Noutros tempos os habitantes de Mem Martins festejavam o Natal muito à sua moda. Sem peru, sem bacalhau, sem fritos, sem bolo-rei e até sem missa do galo. Sem missa, não porque as pessoas fossem hereges mas, sim, pelo facto da igreja mais perto (a de S. Pedro de Penaferrim) distar para cima de uma légua; e sem os manjares tradicionais da quadra por não serem esses os hábitos da terra.
Também não se fazia a consoada. Toda a festa tinha lugar no próprio dia de Natal. Nesse dia sim, as famílias, quer ao almoço, quer ao jantar, reuniam-se para festejar o nascimento do menino.
O prato forte era a galinha - das mais gordas. Ao almoço, cozida com toucinho e chouriço acompanhada de arroz enxuto: à noite comia-se os restos aquecidos no caldo da canja, ou, se a dona era mais evoluída, corados no forno e comidos com arroz seco e batatas fritas... e Bolo de Natal.
Este bolo era, em Mem Martins, a sobremesa tradicional da quadra. Havia-os em todos os lares, até nos mais pobres, pois estes nunca eram esquecidos pelos vizinhos mais abastados que lhos ofertavam para assim poderem, tal como os demais, festejar o seu Natal.
O fabrico deste bolo caracterizava-se por uma curiosa e ferrenha competição. As mulheres esmeravam-se a confeccioná-lo e as respectivas provas faziam-nas os seus homens nas tabernas.
O Bolo de Natal tinha, além de muito apaladado, a virtude de "durar" até para lá dos Reis - diziam os entendidos que, quando bem fabricado, quanto mais duro mais saboroso"
Excerto de uma história do Livro, Mem Martins Retratos . Zé de Fanares
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