O actual Largo Artur Soares Ribeiro era o centro de "Mem Martins Saloio". Era ponto de encontro, sitio de festas e cegadas.
Hoje em dia é um espaço quase ignorado, mas é um dos locais com mais história da vila. Era designado o "Largo do Ti Saloio", onde ainda hoje existe a Vivenda Soares Ribeiro.
Artur Soares Ribeiro (1895-1985) foi impulsionador da construção da Escola Primária Guerra Junqueiro (tristemente já demolida), o principal elemento da Comissão de Melhoramentos de Mem Martins (1930), sócio fundador do Mem Martins Sport Clube, e mandou construir, por sua própria conta, o chafariz no Largo do Ti Saloio e um bebedouro para animais na Rua do Coudel.
Aqui deixo, um excerto de uma história ocorrida no Largo do Ti Saloio em 1928, retirada do livro "Mem Martins: Retratos" de Zé de Fanares (Sr. Luís Miguel, outro símbolo da vila), que descreve um momento importante na vila.
A Luz Eléctrica
"A Primeira vez que houve um arraial popular em Mem Martins foi pelo São João, no ano de 1928. Organizou-o o Artur Soares Ribeiro - o "Artur Saloio" - e a receita reverteu a favor da construção da escola "Guerra Junqueiro"
O local escolhido foi o largo do Ti Saloio (pai do organizador) e o programa era, deveras, aliciante. Um "sol e dó" de São Pedro mais o "Faneca" asseguravam a parte musical; havia quermesse, tômbola e uma barraca de comes e bebes; e, como entretenimentos; tracção à corda, gincana de bicicletas, corrida de sacos, pau de sebo... o costume!
Mas o grande atractivo do certame era a iluminação. Anunciava o prospecto em letras garrafais: "O recinto das festas encontra-se feericamente iluminado e ornamentado com lâmpadas eléctricas de cores variadas".
- Como!? Como é que pode ser isso se não há electricidade? - era a pergunta que corria de boca em boca.
Claro que os organizadores tinham, como se usa dizer, o trunfo na manga e, na véspera da festa, quando o Manuel Carreiro chegou de Lisboa, onde tinha ido levar um carrego de queijadas, por conta da Gertudes d'Ouressa, desvendou-se o mistério. Em cima da galera vinha um motor. Grande, enorme, com uma ventoinha que fazia lembrar a hélice duma traineira, com tubos e mais tubos, fios, botões, manípulos, manómetros, termómetros, etc... Era um gerador que um engenheiro do Arsenal da Marinha, emprestara ao "Artur Saloio".
Durante o resto do dia foi um corrupio de gente para ver, de perto o "aparelho". Os mais entendidos apreciavam-lhe os cilindros, calculavam-lhe os cavalos e alguns, mais curiosos, tentavam até adivinhar como é que aquilo fabricava electricidade. Os outros, os que não percebiam patavina do assunto, olhavam para aquela "mánica" como um boi para um palácio.
Ao lusco-fusco experimentou-se a instalação do arraial. Foi um momento histórico: naquela amena noite de Junho viu-se pela primeira vez a luz eléctrica em Mem Martins!
No dia da festa era gente e mais gente. Todos de nariz no ar a olharem para as lâmpadas das mais variadas cores, penduradas nos fios e a imaginarem o efeito que fariam depois de acesas.
Quando, à noite, se conseguiu (á terceira tentativa) pôr aquela bizarma a trabalhar e se ligaram as luzes ouviu-se um uníssono "ah!" de espanto e vários vivas ao "Artur Saloio"
O deslumbramento, no entanto, durou pouco tempo. O motor conforme foi aquecendo foi aumentando de trepidação e, às tantas, nada nem ninguém o conseguiu segurar...
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Com grande mágoa do Soares Ribeiro a festa continuou até ás tantas da madrugada, mas... à luz do petróleo...."
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