A geografia ferroviária da rede suburbana de Lisboa muda a partir desta segunda-feira com comboios de dois pisos a atravessarem o túnel do Rossio para assegurarem a ligação a Sintra e automotoras de cor amarela (habitualmente afectas aos regionais para Tomar) a fazerem a linha Azambuja – Santa Apolónia.
A CP justifica esta mudança por falta de material circulante, mas garante que os horários serão os mesmos, não havendo alterações significativas na oferta.
O PÚBLICO apurou que na origem desta escassez de material estão problemas anormais identificados nos rodados dos comboios que compõem a frota da linha de Sintra (séries 2300 e 2400) e que têm levado à sua crescente imobilização em oficina. A compra de novos rodados não é um acto de gestão imediato, devendo estes ser encomendados no mercado internacional com vários meses de antecedência.
A empresa tem detectado um desgaste exagerado nas rodas daquele material circulante (ver PÚBLICO de 21/10/2013) que deveriam poder assegurar 800 mil quilómetros sem ter que ir à revisão, mas que acusam problemas logo aos 100 mil quilómetros, o que obriga à sua desmontagem para serem reperfiladas num torno.
Esta operação e a dificuldade em encomendar novos rodados levou a que parte da frota se encontre agora imobilizada, optando a CP por recorrer a material circulante diferente para poder manter a oferta.
Não é, contudo, pacífico que não venha a haver a partir de hoje perturbações no funcionamento da CP Lisboa. Os comboios de dois pisos obrigam a um maior tempo de paragem nas estações para os passageiros poderem subir e descer, o que tem particular relevância na linha de Sintra, onde a procura é maior.
Por outro lado, na linha da Azambuja é dado como garantido que os passageiros viajarão a partir de hoje como sardinha em lata durante as horas de ponta porque as automotoras de serviço regional para ali destinadas têm uma capacidade inferior à das UQE (Unidades Quádruplas Eléctricas) de dois pisos que dali foram retiradas para irem para Sintra.
A CP prevê que esta situação seja “temporária” e esteja resolvida em quatro semanas.
As origens das deficiências nas rodas das automotoras 2300 e 2400 é que constituem um mistério. Técnicos da CP não têm dúvidas que o problema está na infra-estrutura pois são visíveis em alguns pontos da linha de Sintra alguns troços com “desgates ondulatórios” nos carris (estes acusam pequenas ondas em vez de serem completamente lisos). Tal situação dever-se-á a uma deficiente manutenção da Refer, que a isso tem sido obrigada devido às políticas de contenção de custos.
A Refer rejeita culpas, até porque o simples facto de a linha de Sintra ser a que tem maior tráfego em toda a rede ferroviária nacional é motivo suficiente para nela haver cuidados dobrados na manutenção. De resto, é uma linha que foi modernizada há poucos anos, havendo até um troço (Monte Abraão – Cacém), cuja quadriplicação foi inaugurada há apenas um ano.
Nesta perspectiva, o problema dos rodados seria uma especificidade do material circulante (CP) e não da infra-estrutura (Refer).
O PÚBLICO apurou que foi criado um grupo de trabalho formado por técnicos das duas empresas com o objectivo de encontrar explicações para este fenómeno.