No Casal da Cavaleira
Tempo em Algueirão Mem Martins
domingo, 28 de dezembro de 2025
sábado, 27 de dezembro de 2025
sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
Nova Estação CP Ouressa
Durante vários anos, foi comum ouvir-se em Algueirão-Mem Martins que estaria prevista a construção de uma nova estação da CP na zona de Ouressa, nas imediações da Piscina. A ideia circulava sobretudo em conversas informais entre moradores e em comentários de café, alimentando a expectativa de uma melhoria significativa na mobilidade da zona e de uma maior proximidade do comboio a bairros mais afastados da atual estação.
No entanto, com o passar do tempo, nunca surgiu qualquer confirmação oficial por parte da CP, da Câmara Municipal de Sintra ou de outras entidades públicas. Não houve apresentação de projetos, estudos técnicos divulgados, consultas públicas ou anúncios formais que sustentassem essa possibilidade. A ausência total de documentação ou comunicação institucional acabou por enfraquecer a credibilidade da história.
Tudo indica, assim, que a alegada nova estação de Algueirão-Mem Martins em Ouressa não passou de um mito urbano: uma ideia repetida e amplificada ao longo dos anos, talvez baseada em interpretações livres de planos genéricos de ordenamento ou em desejos legítimos da população, mas que nunca chegou a existir como projeto real. Hoje, é sobretudo lembrada como um exemplo de como certas narrativas locais ganham força sem nunca terem tido um fundamento oficial.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Incêndio Industrial em 1988
Foi no final do verão de 88 que deflagrou, em São Carlos, um perigoso incêndio industrial que marcou profundamente Mem Martins.
Tudo começou nos armazéns da Printer Portuguesa e rapidamente se propagou às instalações da Duraplás. Eram edifícios construídos em chapa, repletos de produtos altamente inflamáveis, circunstância que deu origem a violentas explosões e fez com que o incêndio atingisse proporções verdadeiramente alarmantes.
A Printer Portuguesa, era uma gráfica e a Duraplás uma empresa de plásticos industriais — responsável, entre outros produtos, pelo fabrico de quiosques de venda de jornais que existiam nas ruas das cidades. Aquele local tornou-se o epicentro de uma noite que muitos ainda hoje recordam.
As explosões eram visíveis e audíveis a grande distância, iluminando o céu e fazendo tremer as casas em redor.
No combate às chamas estiveram envolvidas muitas corporações de bombeiros. Na altura, corria entre a população a ideia de que até viaturas dos bombeiros do Aeroporto de Lisboa tinham sido mobilizadas para enfrentar a dimensão do incêndio.
A Cruz Vermelha montou um hospital de campanha, tendo prestado assistência a muitas pessoas. Algumas foram encaminhadas para a SAP de Mem Martins, outras para o Hospital de Sintra e os casos mais graves para o Hospital de São José, em Lisboa.
Na manhã seguinte, o cenário era revelador da violência do fogo: chapas retorcidas, estores das vivendas em frente ao local do incêndio derretidos pelo calor intenso.
Na época, muito se falou da má abordagem inicial ao incêndio, da falta de preparação e do desconhecimento das matérias-primas armazenadas nos armazéns.
É certo que, hoje, uma ocorrência desta natureza seria encarada de forma diferente. Mas naquela noite de 88, Mem Martins esteve perigosamente perto de viver uma grande catástrofe — uma memória que permanece viva na história local e na lembrança de quem a testemunhou.
Ainda se lembra deste dia???
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Local Hospital Sintra
Local onde hoje se localiza o Hospital de Sintra, na Cavaleira.
Ali se localiza ETAR, e a A16 estava em construção.
Lenda da Fonte do Algueirão
Diz-se que, muito antes de existirem comboios, estradas ou casais alinhadas, o lugar que hoje chamamos Algueirão era apenas campo, pinhal e pedra, encostado à serra de Sintra, onde a Lua tinha um brilho especial. Nessa época, os pastores e lavradores falavam de uma fonte escondida, de água tão clara que refletia o céu como um espelho.
A fonte nascia entre rochas cobertas de musgo, perto de uma gruta — daí, segundo os mais antigos, veio o nome Algueirão. Mas não era uma fonte comum.
Contava-se que só aparecia a quem andasse perdido, ou a quem tivesse o coração inquieto.
Numa noite húmida de verão, um jovem pastor regressava tarde a casa quando se desorientou com o nevoeiro que descia da serra. Com sede e medo, ouviu então o som de água a correr. Seguiu-o e encontrou a fonte, iluminada por uma luz, como se a lua ali repousasse.
Ao beber, sentiu um descanso profundo, mas também uma estranha clareza: viu imagens do futuro — campos transformados em ruas repletas de pessoas e crianças a brincar onde antes havia silêncio.
Quando o pastor tentou voltar à fonte no dia seguinte, nunca mais a encontrou. Mas a água nunca faltou àquela terra, mesmo nos anos de seca, aquele lugar prosperou.
Ainda hoje, dizem os mais velhos, que quando o nevoeiro cobre Algueirão ao amanhecer, a fonte volta a correr por instantes — invisível, mas presente para quem sabe escutar.
domingo, 14 de dezembro de 2025
sábado, 13 de dezembro de 2025
Recordar Mem Martins

Houve um tempo em que o centro de Mem Martins pulsava vida de manhã à noite, durante todo o ano, como se cada rua tivesse o seu próprio coração. Nos anos 80 e 90, caminhar pelo centro da vila era um ritual quase diário, um encontro certo com rostos conhecidos, montras cuidadas e um vaivém constante de gente que vinha não só da Linha de Sintra, mas também de Mafra, Amadora e até de Lisboa.
Não era por acaso que muitos lhe chamavam o “Chiado da Linha de Sintra”. Havia boas lojas — daquelas que sabiam o nome dos clientes — com roupa para todas as idades, calçado de qualidade, artigos de decoração que enchiam as casas de novidades e bom gosto... e ir à Lucanda, à Targo...
As pastelarias eram pontos de encontro obrigatórios e os restaurantes faziam parte da rotina de quem ali trabalhava ou passeava. Tudo estava vivo, cuidado, pensado para quem ali vivia.
Ao fim de semana, o centro transformava‑se num verdadeiro passeio. As famílias desciam a rua sem pressa, os jovens encontravam‑se nas esquinas, os mais velhos sentavam‑se a conversar. O sábado trazia ainda a feira, com fruta e legumes saloios de qualidade, cheiros a terra fresca e cores que enchiam a vista. Era ali, entre sacos de compras e cumprimentos, que se sentia a alma da vila.
Mas era no Natal que Mem Martins se tornava especial. O frio misturava‑se com a animação das ruas cheias e com um cheiro inconfundível a bolo‑rei acabado de sair do forno. Bastava passar perto da Central, do Granada ou do Galeão para sentir no ar a doçura da época, e já havia fila à entrada para levar um Bolo Rei para casa... e no Largo da estação podíamos levar o pinheiro para fazer a árvore de Natal lá de casa.
As montras enfeitadas, as luzes refletidas nas janelas, o movimento constante de pessoas carregadas de embrulhos criavam uma atmosfera quente, humana, memorável. Comprava‑se localmente, conversava‑se, ria‑se. O Natal vivia‑se na rua.
Hoje, o contraste dói. O centro da nossa freguesia e o Largo da Estação são marcados por edifícios envelhecidos, muitos deles a precisar urgentemente de restauro. As ruas estão mal iluminadas, sem atracções, sem motivos para ficar. As pessoas já não circulam, não passeiam, não vivem o espaço. Onde antes havia encontro, há pressa; onde havia comércio vivo, há portas fechadas.
Fica a memória — e com ela a certeza de que Mem Martins já soube ser um centro vivo, bonito e desejado. Um lugar onde o comércio fazia parte da identidade da vila e onde a rua era, acima de tudo, um espaço de convivência. Recordar esse tempo não é apenas nostalgia; é também um lembrete de tudo o que ainda pode voltar a ser.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Fábrica da Messa — Memórias de Ferro
Nos anos em que Mem Martins ainda cheirava um pouco a aldeia, a fábrica da Messa erguia-se como um gigante industrial na linha de Sintra em crescimento.
Era impossível passar por ali sem sentir o tilintar metálico das peças e o burburinho constante de quase 1700 trabalhadores, que entravam e saíam como um coração mecânico que pulsava todos os dias.
Para muitos, trabalhar na Messa não era apenas um emprego — era uma vida. Famílias inteiras tinham ali o seu sustento. Pais, irmãos, primos… todos conheciam de cor o cheiro do óleo, o peso das teclas, o orgulho de montar aquelas máquinas de escrever que iriam viajar para escritórios, escolas e repartições por todo o Mundo.
Ao final do mês, Mem Martins ganhava outra vida. Depois de receberem o salário, era comum ver grupos de trabalhadores a juntar-se nos poucos restaurantes que existiam perto da fábrica. Era ali, entre arroz de polvo, espetadas de lulas, copos de vinho tinto barato e muita conversa, que se celebrava mais um ciclo de trabalho. Havia gargalhadas, histórias repetidas, sonhos adiados e aquele sentido de camaradagem que só nasce quando se partilha o suor todos os dias.
Mesmo em frente à fábrica, numa moradia discreta mas conhecida de todos, existia a pequena casa onde os funcionários podiam comprar artigos de mercearia a preços mais simpáticos. Ali compravam-se conservas, arroz, açúcar… tudo o que ajudava a compor a mesa de casa sem apertar demasiado o cinto. Para muitos, aquela porta era quase tão importante quanto a entrada principal da própria Messa.
Mas os tempos mudam, mesmo que ninguém esteja preparado.
Quando os computadores começaram a aparecer nas secretárias — primeiro timidamente, depois com força — a Messa sentiu o impacto como um murro no estômago. As máquinas de escrever, firmes e pesadas, tornaram-se relíquias de outra era. A fábrica, que durante décadas representara modernidade e inovação, foi ficando para trás. Não conseguiu acompanhar o ritmo das novas tecnologias, e lentamente os dias de movimento constante deram lugar a corredores vazios, secções encerradas e marcas de lutas sindicais.
Até que um dia, o inevitável aconteceu: a Messa faliu. Todos ficaram em casa.
O silêncio que ficou depois do fecho parecia maior do que o ruído de todas as máquinas juntas. Mem Martins perdeu um dos seus símbolos. Muitos trabalhadores viram ali não só o fim de uma fábrica, mas o fim de uma época.
Hoje, quem passa pelo antigo lugar da Messa talvez não imagine o que ali existiu, mas secretamente ainda ouve o som da sirene a marcar o final de mais um dia de trabalho.
Na memória dos que lá trabalharam — e na história da vila — permanece viva a lembrança da fábrica que enchia os dias, os bolsos e o coração de uma comunidade inteira.






























