A antiga feira de Fanares tinha um encanto próprio, daqueles que só quem cresceu em Algueirão Mem Martins conhece bem.
Realizava-se religiosamente ao sábado e à quarta-feira de manhã, quando ainda o sol mal tinha acordado e já se sentia no ar o movimento apressado das bancas a serem montadas. O cheiro a fruta saloia — doce, fresca, de cores vivas — enchia o espaço inteiro. Eram morangos, maçãs, laranjas, figos e uvas de uma qualidade que parecia impossível de encontrar noutro lugar. A fruta vinha ainda com o toque da terra, e com as histórias dos agricultores que a criavam.
Ao passar o túnel estreito debaixo dos prédios, abria-se um novo universo. Ali encontrávamos de tudo um pouco: bancas de roupas empilhadas com camisolas de lã e casacos baratos, cassetes quase pirata com coletâneas improváveis, e aquelas verdadeiras “oportunidades” que só quem frequentava a feira entendia — coisas úteis, outras nem tanto, mas sempre com um charme especial.
No edifício principal da feira vivia outro ritual próprio: o peixe fresco da costa atlântica. As peixeiras eram figuras queridas, mulheres de voz forte e sorriso fácil, que conheciam o nome da maioria dos seus clientes. Sabiam quem gostava da pescada mais alta, quem queria a dourada mais brilhante, quem levava sempre uns carapaus para o almoço de domingo. Entre pregões, risadas e conversas sobre o tempo, transformavam a compra do peixe em algo muito mais pessoal.
A feira de Fanares era mais do que comércio. Era encontro, rotina, vizinhança viva. Um pedaço de Mem Martins que permanece na memória de quem lá passou — com saudade, com histórias, com aquele espírito simples e genuíno que já não se encontra em muitos lugares.















