Texto excerto da reportagem:'Dez Kms à hora a bordo dos transportes publicos'
Dois minutos, dois minutos era quanto a
enfermeira Angelina Gardete, 60 anos, precisava para apanhar o comboio das
18.41 no Rossio, com destino a Sintra, para sair no Algueirão, onde mora.
Assim, tem de esperar mais 30 minutos. "Não sei o que se passa, antes eram
mais próximos", lamenta. Do gabinete de comunicação da CP informaram o DN:
"Há dois comboios que pode utilizar para, com transbordo na estação do
Cacém, ter ligação a Sintra, comboios de dez em dez minutos." Angelina diz
que não compensa, que além de poder não ter lugar sentada, o tempo que iria
ganhar seriam uns dez minutos. E a composição que sai meia hora depois vai
cheia e com entrada de passageiros ao longo do percurso.
Angelina Gardete trabalha no Barreiro e vive em Algueirão
| SARA MATOS / GLOBALIMAGENS
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E vai já com 1h45m de viagem desde que deixou o Hospital do Barreiro, onde trabalha. É um dos seus três locais onde exerce funções, além dos hospitais de Amadora-Sintra e de Cascais, este último o que lhe dá um ordenado fixo. Desloca-se para estas unidades em viatura própria, mas o tempo, o custo do combustível e as portagens não compensam a sua utilização para o Barreiro. Gasta uma média de 250 euros por mês nas deslocações.
Saiu do hospital às 17.30 para apanhar o barco no
Barreiro das 17.45, chegando ao Terreiro do Paço 20 minutos depois para apanhar
o comboio no Rossio. "Posso apanhar o metro, mas a médica diz que faz bem
andar e aproveito, são 15 minutos a pé. Quando estou com mais pressa vou no
metro, mas são cada vez mais espaçados e, muitas vezes, está com problemas."
Desce em Algueirão-Mem
Martins às 19.46 e, neste dia, não tem o carro disponível porque o emprestou ao
filho. Terá de apanhar a camioneta. Nos dias em que está menos cansada, o que
não é o caso, vai a pé e são 20 minutos. No horário diz que a próxima é às 20.12,
mas tem sorte e apanha outra por volta das 20.00. "São três horas de
viagem, mais coisa menos coisa, é sempre assim, na ida e na volta."
Horas que dá para falar de tudo, que trabalha e
desconta desde os 12 anos, que voltou a estudar quando conseguiu pagar os
estudos, que sofreu violência doméstica com o pai dos dois filhos. E que, muito
provavelmente, regressará a Londres, onde já trabalhou. E onde ganha mais num
mesmo sítio do que nos três hospitais em Lisboa. "O tempo e o dinheiro que
gasto nas viagens? Quase que não compensa, mas tem de ser!"
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