Um funcionário da carrinha de valores assaltada em Sintra, de que resultou a morte de um automobilista, em 2016, testemunhou hoje em tribunal que, após sentir uma arma apontada à cabeça, apenas se recorda de ter ouvido tiros.
Segundo contou o funcionário da empresa de transporte de valores Loomis, quando carregava sacos de dinheiro para a carrinha, no parque de um hipermercado do Lourel (Sintra), sentiu que um assaltante lhe apontava uma arma "na cabeça" e lhe ordenou para que se baixasse.
"Ouvi tiros, tiros, tiros", relatou o vigilante, que admitiu depois ter fechado os olhos e de não ter consciência do que se passou a seguir, até se aperceber de o colega conseguir escapar com a carrinha do local onde estava parada e de, também ele, fugir para dentro do hipermercado.
No Tribunal de Lisboa Oeste, em Sintra, continuou hoje o julgamento do grupo que assaltou a carrinha de valores no Lourel, a 28 de fevereiro de 2016, que fugiu num carro até se despistar num acesso da Autoestrada 16 (Cascais-Belas).
Os seis assaltantes tentaram fazer parar veículos na A16, tendo um deles alvejado com uma caçadeira 'shotgun' um automobilista, de 49 anos, que não parou a carrinha em que seguia, acompanhado da mulher e da filha de seis anos, levando ainda a viatura até às portagens de Algueirão-Mem Martins, onde veio a morrer.
Após a tentativa gorada de se apoderar de outro veículo, o grupo conseguiu fazer parar uma viatura e voltou ao carro despistado para recuperar os sacos com moedas, no total de 8.123,67 euros.
Na audiência de hoje, além do visionamento de imagens do assalto captadas pelas câmaras de videovigilância do hipermercado, foi também ouvido o testemunho do condutor da carrinha, que apesar de bloqueado por duas viaturas, logrou escapar com o veículo blindado.
Após se ter fechado na carrinha, um dos assaltantes bateu-lhe com uma pistola no vidro da janela, mas apesar de outro ter disparado com uma caçadeira para os pneus conduziu a viatura para outra zona do parque de estacionamento.
Segundo a acusação do Ministério Púbico, a que a Lusa teve acesso, um dos tiros contra a carrinha fez ricochete e atingiu um assaltante, nos dedos de um pé, que após a fuga foi receber assistência num hospital particular, alegando tratar-se de um acidente de trabalho.
No banco dos réus estão sentados dez arguidos, entre os 28 e os 46 anos, residentes nos concelhos de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Sintra, dos quais três a cumprir penas de prisão por outros processos e quatro em prisão preventiva.
Os seis arguidos que participaram no assalto à carrinha de valores, armados com duas caçadeiras, um revolver e uma pistola, estão acusados, em coautoria, de dois crimes de roubo qualificado consumado, um crime de furto, três de falsificação de documento (matrículas) agravado e um de detenção de arma proibida.
Cinco destes arguidos estão também acusados, em coautoria, de um crime de homicídio qualificado e dois crimes de roubo qualificado na forma tentada, enquanto três respondem ainda por um crime de roubo qualificado consumado, um crime de furto e um crime de branqueamento de capitais.
Estes três arguidos furtaram uma moto e assaltaram uma carrinha da Esegur, quando abastecia uma caixa multibanco numa papelaria na Ramada (Odivelas), conseguindo apenas 910,20 euros por terem sido detetados por supervisores da empresa.
A Polícia Judiciária deteve, em 21 de março de 2017, três suspeitos do assalto à carrinha de valores em Sintra, quando outros três suspeitos estavam já detidos, entre os quais um capturado ao abrigo de um mandado de detenção europeu.
O Ministério Público, na acusação, propôs a medida de coação de prisão preventiva para os arguidos que não cumpriam pena de prisão, devido ao risco de fuga e "atento o alarme social" provocado pela "violência gratuita" que tinham demonstrado nos assaltos.
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