O “sprint” - História extraída do Livro "Mem Martins – Retratos”, Zé de Fanares
Foi no ano de 1959 que, encorajado por  meia dúzia de amantes do desporto das bicicletas, a direcção do Mem  Martins Sport Clube deliberou criar uma secção de ciclismo. Os  resultados das primeiras provas foram muito fraquinhos já que, de  mediocridade do conjunto, apenas se salientaram dois elementos. Os  outros…
Era pois necessário reforçar a equipa,  caso se quisesse fazer figura. Foi assim que, por mão alheia, apareceu  no “Mem Martins” um tal “João Henriques” rotulado de “muito bom  rapazinho e com jeito para o ciclismo”. 
Fez a sua estreia no circuito de Mem  Martins, no dia 14 de Junho de 1959, onde conseguiu um honroso 3.º lugar  e, no domingo seguinte, no circuito do Algueirão, venceu tudo e todos,  chegando à meta com um substancial avanço sobre o 2.º classificado.
A partir desse dia, os mais entendidos no “desporto do pedal” começaram logo a augurar-lhe um futuro promissor na modalidade.
Com um terceiro lugar na prova da  estreia e uma vitória concludente no domingo seguinte, o “João Henriques”  passou, num ápice de desconhecido a vedeta. 
Vedeta para os seus adeptos e  admiradores porque para ele o vedetismo não contava. Continuou a ser o  mesmo de sempre: modesto, simples, bonzão…
Como não há bela sem senão o “João Henriques” também tinha o seu: faltava-lhe o “sprint”. 
Poderia, ao longo da sua brilhante  carreira, ter ganho dezenas e dezenas de provas se, à vista da meta,  tivesse aquilo que em gíria ciclista se chama “ponta final”. Mas não  tinha e, então, na maioria das vezes, depois de ter feito uma prova  brilhante, não conseguia classificar-se nos lugares de honra por falta  do tal “sprint”.
Se em Mem Martins o “João Henriques” era um ídolo, na sua terra – Casalinhos de Alfaiate – o João era o ai-Jesus daquela gente. 
Aos domingos, ao cair da tarde, sempre  que o João ia correr as pessoas não arredavam pé, do café lá da terra,  sem que chegasse alguém com notícias da prova.
Então, se o João ganhava era vivas e  copos (e às vezes foguetes!) à saúde do vencedor mas, se não ganhava,  havia o natural desânimo e os mais entendidos até teciam comentários às  características do ciclista.
Foi assim que, um dia, quando chegou a notícia de que o João tinha “feito” um sétimo lugar, alguém comentou:
– É uma pena o nosso João não ter “sprint”.
Esta afirmação foi corroborada por quantos estavam na conversa e houve até um que prognosticou:
– Se o João tivesse “sprint”, ninguém o papava! Ganhava tudo!!
Uma velhota, acérrima admiradora do “João Henriques”, não se conteve e meteu a colherada:  
– Olhem cá, então se nós já lhe comprámos  uma bicicleta das melhores, porque carga d’água não lhe havemos, também  de comprar uma coisa dessas?!… Um “sprint”?!
N.B. – “João Henriques” é o nome por que  foi conhecido enquanto correu no “Mem Martins” o ciclista João Roque,  de seu nome João Henrique Roque dos Santos, que foi, no seu tempo, um  verdadeiro campeão vencendo inclusivamente uma volta a Portugal. 
Antigos corredores: 1958 (Concelho de Sintra) 
Arnaldo Péleve (Náo), Albertino,  Domingos Claudino (Canástro), António Acúrcio, Florêncio Silva (Covas),  Flávio Simões, Xico Portela, Manuel Caneira, Baptista Alvas (corredor e  treinador), João Roque, Ladeiras, Paralelo, Luís.