(Jornalista e autor literário)
Nunca
ponderei em sair de Algueirão-Mem-Martins. Em jeito de gracejo, os meus amigos
que em Mem-Martins não habitam, troçam comigo pelo meu bairrismo exacerbado.
Provavelmente
sê-lo-á, não sei, mas sinto que é esta a terra a que pertenço e que, de algum
modo, também um pouco dela me pertence. Embora a vida profissional não me
permita fazê-lo tão amiúde como gostaria, regularmente não digo não a um passeio
pela terra onde habito desde que me conheço como gente. Gosto da sensação única
de cumprimentar com um olhar cúmplice pessoas cujo rosto conheço de toda a vida,
mas que nunca me foram formalmente apresentadas. Desfruto da sensação de passear
pelas ruas onde dei os primeiros passos nos tempos de meninice e de me
aperceber das coisas que mudaram ou simplesmente daquelas que, por uma razão ou
outra, teimam em não mudar.
Aprecio o característico cheiro a “comboio” que provém da velhinha estação de caminho-de-ferro ou o inigualável aroma de pão acabado de fazer que emana da decana padaria Primavera. O jornal parece ter mais cor quando comprado na papelaria Afonso V, onde durante anos a fio aguardei ansioso pela chegada dos novos manuais escolares. Sempre que a carteira o permite, registo os meus boletins nos jogos da sorte e azar no café do Zé do Nicho, outro dos locais emblemáticos que fazem parte do meu imaginário e onde há décadas a minha há muito falecida avó me ensinou a registar a primeira aposta nos embrionários meses de vida do então imberbe totoloto. Uma época, agora longínqua, em que se aguardava colado ao ecrã e em tom esperançoso o veredicto soberano de uma tômbola que então me parecia ter tanto de injusta como de mágica.
Religiosamente,
continuo a orgulhar-me de nunca faltar às festas da Nossa Sra da Natividade.
Não o faço por especiais razões de fé, embora não seja desprovido da mesma.
Faço-o pela oportunidade de celebrar a nossa vila, vivenciando de perto um dos expoentes
máximos da vida em comunidade da mesma, e também, confesso, porque durante o
ano nenhuma outra fartura ou algodão doce me adocica tanto o palato como as que
ali compro. Sempre apreciei e continuo a apreciar os salutares momentos de introspecção
que continuo a ter no parque infantil da minha rua, local responsável por tantos
momentos de lazer e simultaneamente de justificados raspanetes da minha mãe.
Se
os episódios memoráveis aí vividos ficaram algures perdidos no tempo, os amigos
que aí fiz, esses, felizmente ficaram para a vida. Por vezes gente de fora,
pertinentemente, questiona-me se em Algueirão-Mem-Martins não me incomodam
questões como a insegurança crescente, o estacionamento cada vez mais escasso
ou os centros comerciais que pululam como cogumelos e asfixiam o comércio
local.
Partilho e sinto o mesmo que aqui foi descrito. Nada como Mem Martins :)
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