(activista e criador do projeto Amizade Animal)
Sou um habitante na Tapada das Mercês à 14 anos, mas apenas à 5 destapou-se-me a realidade que estava escondida por detrás do nevoeiro da rotina casa-trabalho, trabalho-casa da linha de Sintra. Vivo hoje orgulhoso de viver na Tapada, não pelas razões materiais é certo, no entanto, nunca tive tantas dúvidas e ao mesmo tempo esperança no futuro. É necessário perceber quem somos e onde vivemos e realizar-mos algum tipo de reflexão, porque sem diagnóstico, não há remédio que valha.
No caso da
Tapada das Mercês, realidade que vivo mais por dentro do que por fora, à falta
de concretização física e resolução moral sobre o que aqui aconteceu. No plano
físico, as evidências contrastam brutalmente com as promessas
"históricas" do urbanizador e que nunca se concretizaram. Em reuniões
com a Câmara nos últimos 5 anos, nunca responderam às expectativas de quem
viveu o sonho de comprar uma casa, o que normalmente é um investimento de uma
vida. Por isso, o resultado é um diferencial, uma lacuna, um antes e um depois
do que era e do que ficou. Por outro lado, temos vindo a assistir a uma
mobilização enorme e com aspectos sociais de impacto positivo ao verificar que
existem pessoas não contentes com o que aconteceu, mas que não lhes impediu de
ter fé no que pode ser melhorado, e por isso arregaçam as mangas.
Não obstante
não terem obrigação de o fazerem, são dezenas de pessoas (chegaram a ser às
centenas em iniciativas locais), que optam por realizar na Tapada e fora dela
reuniões, iniciativas, discussões, convites ao público, etc no qual eu destaco
a Associação
de Moradores da Tapada por ter visto todo o seu trabalho
desenrolar, mas do qual já não faço parte. E é aí que reside a minha esperança.
Mesmo na dúvida do futuro, na dúvida do que não acontece e o tempo vai
lembrando que parece não estar nada a acontecer, que assisto todos os dias na
Tapada a pequenos milagres. As relações ficam mais fortes, e são testadas. As
ideias refinam cada vez mais as acções. E o tempo que cada um viu ser investido
em pequenos gestos para mudar e participar nas soluções na Tapada, abrem
caminho a um sorriso, a uma esperança. E à luz no fundo do túnel.
A fazer-se algo em Sintra e
nas freguesias, que se faça o melhor com quem sabe e com quem tem esse poder.
Mas que inclua estar com as pessoas, com a dinâmica das organizações locais,
com as necessidades do comércio, e que ao mesmo tempo se manifeste num real
interesse público na forma e conteúdo.
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