João, 48 anos, lembra ao CM inferno no fogo do Caramulo.
Quase três anos depois da tragédia, João Martins, 48 anos, ainda treme a voz. O fogo do Caramulo fez quatro dos oito bombeiros mortos em 2013 e marcou a história de todos os voluntários, mas principalmente dos que, como João, combateram aquelas chamas.
A poucos dias do Dia Municipal do Bombeiro em Sintra, cuja gala se realizou ontem, João lembra ao CM as horas de aflição. “Tinha os pés queimados, estava desorientado, com sede. Ouvi gritar e tentei ajudar os que estavam perto. Até que não consegui mais andar”. O bombeiro de São Pedro de Sintra fazia parte da coluna que combatia o fogo do Caramulo, a 22 de agosto. “Fomos descendo a serra, nada fazia prever. Sou voluntário há 34 anos e nunca vi nada assim.
Lembro-me de me levantar e cair. Bati numa árvore e tentei levantar-me. Faltaram-me as forças. Só queria sair, fosse como fosse”. João é exemplo de coragem para os dois filhos bombeiros, de 17 anos, que sempre acreditaram que o pai ia sair vivo do Caramulo. “Pensei muito nos meus filhos e na minha mulher. Se ia sair dali ou não. Foi muito complicado”, conta, comovido. Ainda não recuperado das queimaduras nos pés, João ficou também com problemas respiratórios.
Mas sente-se agradecido por estar junto da família. “Devo ter sido o último a sair. Fui resgatado numa cadeira, com o guincho do carro”.
Bernardo Cardoso (18 anos), Cátia Dias (21), ambos do Carregal do Sal; Bernardo Figueiredo, (23), Estoril; Ana Rita (24), Alcabideche; Daniel Falcão (25) e António Ferreira (45), Miranda do Douro; Pedro Rodrigues (40), Covilhã; e Fernando Reis (50), Valença, morreram no combate às chamas entre junho e setembro de 2013.
“Liguei à minha mãe e despedi-me”A chamada para a mãe foi imediata. Jonathan Gabadinho, 32 anos, na altura bombeiro em Queluz, viu na atitude dos chefes que algo estava errado. Combatiam um fogo na Tapada de Mafra, em 2009, e ficaram cercados. “Despedi-me da minha mãe”, conta.
Hoje bombeiro em Algueirão-Mem Martins, agradece ao 2º comandante a coragem de os ir buscar e recorda que o medo o levou a fazer a chamada: “Gosto muito de ti, mãe. Estamos cansados. Não sei o que vai acontecer”, disse à mãe.
Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/
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